quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

40 #Jornaleiro


Quem trabalha em banca é banqueiro? Não. Então é bancário? Claro que não, né! Rs Se assim fosse, as bancas seriam blindadas e além das inúmeras linhas de texto das revistas e jornais, encontraríamos também as linhas de crédito. Mas então é o quê? É JORNALEIRO. Ir a banca sempre foi uma diversão. A internet nem existia ainda, e para mim, ir a uma banca, era se conectar com o mundo. Das revistas de pintar, vieram as coleções, as revistas e os jornais. Cada um na sua época, mas não necessariamente nessa ordem. Quando eu viajava com minha família e o tempo não ajudava em nosso destino, passar por uma banca era essencial. O Seu Nelson, da banca da esquina, sempre cultuou o passado das bancas e trouxe para a sua, um pouco disso. A banca tem duas luminárias grandes do século passado, um cinzeiro de grande e de cobre na frente, quadros com fotos e até um baleiro das antigas. Coisa de entrar e se teletransportar para o passado. Enfim, o Seu Nelson anda acompanhando o meu blog (não é por que ele é idoso que seria incapaz de usufruir da modernidade, certo?) e resolveu me dar uma oportunidade em sua banca. A ideia dele é que eu ficasse responsável pelos jornais. Eu chegaria antes dele, ainda de madrugada, para receber os jornais. Depois eu deveria arrumá-los na estante para que pudesse vendê-los. Outro motivo pelo qual ele me escolheu, é por eu ser descontraído e gostar de falar. Tudo seria muito simples, porém trabalhoso. Receber os jornais não foi o problema, mas organizá-los junto com a venda, foi jogo duro. Lembrei de Chaplin em Tempos Modernos. Até agora estou repetindo os movimentos aqui em casa. Bom, eu já estava vendendo muito bem, mas resolvi bolar na hora uma estratégia para vender mais jornais. Quem levasse um jornal, ganhava uma revista surpresa. Veio empresário, empregada, dona de cada, taxista, padeiro, policial, gari...foi coisa de louco. Desse jeito, o Seu Nelson iria até me promover por conta da nova clientela que ele passa a ganhar. Era tanta gente diferente comprando que eu passei a nem reparar mais a fisionomia das pessoas. Aí chegou uma senhora com uma cara de brava. Eu ofereci a promoção, mas ela recusou e disse gritando: "Promoção? Como é que você vende um jornal para o meu filho de 10 anos e ainda dá a ele uma revista pornográfica?". Ops! Engoli seco e tentei me explicar dizendo que ela poderia guardar a revista para quando ele tivesse mais idade. Nesse meio tempo, chega o Seu Nelson assustado com aquilo tudo. "Mas o que está acontecendo aqui?", disse ele. Sem ter tempo de responder, chega um cara engravatado e bem nervoso, dizendo que quase foi demitido pelo chefe. O superior pediu a ele que comprasse um jornal e quando este o abriu, no café da empresa, caiu de dentro dele, uma revista voltada para os gays. Na hora, ninguém disse nada, mas foi um "zum zum zum" paralelo, que ele teve que para o serviço e declarar a todos que não tinha nada contra as opções sexuais de cada um, mas que não era gay. Como se não bastasse, chega uma freira reclamando que no jornal dela veio uma revista feminina de fisioculturismo e que era um pecado....Só sei que diante tanto problema, o Seu Nelson disse que trabalhar por ali, não daria certo para mim. E como o passado para ele é muito sério, ele não conseguiria trabalhar olhando para mim do outro lado da banca. Desculpas dadas, e mais uma vez, segui o rumo da rua. E viva o papel do jornaleiro! #UmBicoPorDia

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